segunda-feira, 18 de março de 2013

Iniciando o processo de reconciliação

Tenho raiva quando caio em congestionamentos. Mas aí sento num bar na Augusta e vejo aquela mistura de gentes e cores e ideias. Fico triste ao abrir a janela e não ver aquele mar azul ou sentir o ar puro do interior. Mas chego na Benedito Calixto, com aquela energia indescritível, e me sinto em casa. O centro assusta, mas não dá para, ao mesmo tempo, não se impressionar com a beleza dele (está lá, é só olhar com carinho). São Paulo causa esta contradição dentro da gente porque ela é assim: contraditória, cidade que a gente ama e odeia, ao mesmo tempo, tudo junto e misturado. Não é minha cidade de nascimento, mas é minha cidade de criação. E é a ela que eu devo muito do que sou! Parabéns, Sampa! Continue me dando motivos para mais te gostar do que te odiar!”

Este foi um post retirado do meu próprio Facebook, publicado no dia do aniversário da cidade: 25/01. Pouco depois, passei uma minitemporada, 15 maravilhosos dias, no Nordeste. Sempre tive esta coisa contraditória dentro de mim: gosto da cidade grande e de tudo o que ela oferece, mas é só colocar o pezinho na areia que o coração bate mais forte. Sou contraditória como São Paulo.

Voltei num domingo de fevereiro com um aperto no peito de deixar a beleza e o sossego de Recife e Alagoas para trás. Sair do aeroporto e cair na Marginal do Tietê não faz a transição ser menos dolorosa. A segunda-feira começou com o rodízio e uma batida de carro. Terminou com enchente na cidade, um congestionamento de 1h30 e uma menina/mulher (os 30 fazem isso com a gente- nem a palavra menina, nem a palavra mulher se encaixam direito) sentada no sofá da sala, em crise: ISSO NÃO É VIDA! Quem nunca...

Sou bragantina, sem nunca ter morado em Bragança Paulista (contraditório??). Daquelas coisas que os pais nunca sabem explicar como/por que aconteceram, mas o fato é que vivi todos os meus 30 na Paulicéia Desvairada.

Meu trabalho, como jornalista, é tentar ajudar a amenizar um problema que é de quase 100% dos paulistanos: o sofrimento no trânsito. A minha rotina é ouvir na rádio os depoimentos dos motoristas. Nem sempre boas notícias: buracos, congestionamentos, infrações, brigas no trânsito, acidentes, ~mortes ~. E tentar achar algum caminho que leve em direção à luz no fim do túnel: ao descanso, ou ao compromisso importante, ao destino final. É um trabalho nobre este, de ajudar as pessoas, seja qual for o problema, e me orgulho de fazê-lo todos os dias. Mas endurece um pouco o coração. De repente é comum levar duas horas para chegar ao trabalho, que fica a apenas 10 quilômetros do ponto de partida. Ou ter de noticiar mais um acidente com mortes na cidade, o terceiro do dia. Este cenário não contribui para que eu ache São Paulo uma cidade bacana, uma cidade para se viver (viver, e não apenas morar).

Esta crise de identidade (minha e) com a minha própria cidade me fez estar aqui agora, começando o que eu posso chamar de “processo de reconciliação”. Meu objetivo, neste blog que nasce hoje (dia em que completo minha terceira década), é falar do que há de bom. Apenas! Dos pequenos aos grandes detalhes que tornam São Paulo inigualável, no sentido positivo que esta palavra carrega. Poderá vir na forma de uma história, um fato, uma experiência, apenas uma imagem, que fale mais do que todas as palavras juntas. Quero pegar os pedacinhos de felicidade espalhados no meio deste caos e juntá-los todos, em um único lugar. Porque se eu calhar de “envelhecer na cidade”, quero que esta velhice seja como a relação de minha avó (que completou 86 anos neste mês) com a vida: cheia de dificuldades, mas com muito amor e vontade de viver, de estar aqui, plenamente aqui, aproveitando cada segundo.

As imagens que acompanharão os escritos serão sempre fotografadas pelo autor do post (digo isso porque penso em algo colaborativo num futuro nem tão distante assim... mas uma coisa de cada vez).



Às Avessas porque, se ela é o avesso do avesso, quero-a ao contrário. Quero o avesso do que sinto. Quero mostrar São Paulo às avessas.
21/10/2012: festival Existe Amor em SP, Praça Roosevelt
Dedicado aos meus pais, que escolheram este o meu lar. À minha amiga, irmã mais nova, colega de apartamento e inspiradora de tantas boas ideias, Flávia Elisa. Ao meu namorado, Henrique, que me ajuda a desvendar todos os dias o que é que São Paulo tem, e que muita gente ainda não descobriu!

2 comentários:

  1. Dani!

    Teu post me fez procurar minha "primeira casa" em São Paulo, mais precisamente na Rua Durval Pinto Ferreira, perto do Parque do Nabuco, na zona sul.

    Confesso, não tenho vontade de morar em São Paulo. Depois de morar no interior, sem congestionamento, enchente, violência,... Porém, assim como você, tenho minhas admirações e faço visitas sempre!

    A feirinha da Benedito Calixto é demais - sempre compro discos/LP's! O Mercadão e a 25 de março exigem paciência, mas é um colírio aos que gostam de observar gentes e gentes. Avenida Paulista, Ibirapuera...

    Assim como você, sou fã de praia. Aliás, meu projeto de aposentadoria está no Rio de Janeiro, no pé do morro, com muito samba.

    Eu amo São Paulo. Ah, eu também odeio São Paulo!

    Beijos!!!

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  2. Nossa, Akamine! Não sabe como fico feliz que o blog tenha te inspirado de alguma maneira. No fundo, todos somos um pouco paulistanos... ;) Beijos

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