sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vencemos?

"Façam valer nossos impostos"
"Fora Feliciano"
"Contra a corrupção"
"Contra a PEC 37"
"Contra a privatização do petróleo"

"Pela tarifa zero"
"Vem pra rua que a luta é sua. #insatisfação"

São muitas as insatisfações.

Eram vários grupos desorganizados marchando pela Paulista, além das pessoas que não pertenciam a grupo nenhum. Além dos que não tinham nenhuma reivindicação e estavam lá para "festejar" (sem saber direito o motivo). Até vendedor de milho tinha. Cada um com sua bandeira (menos o vendedor de milho, que estava ali para ganhar um troco mesmo). Eram muitas. Deu até dor de cabeça de tanta informação: tudojuntoemisturado. Demorei um bom tempo para conseguir, no meio disso tudo, achar o grupo do MPL, o primeiro a ir às ruas. O cenário foi muito diferente do encontrado na segunda-feira, quando, apesar de haver outras reivindicações, as pessoas estavam ali UNIDAS por uma, principal e imediata: a revogação do aumento. E, realmente, a mobilização conseguiu este primeiro passo.

Hoje o MPL anunciou que não convocará mais nenhum ato. Segue a nota oficial:

O Movimento Passe Livre (MPL) foi às ruas contra o aumento da tarifa. A manifestação de hoje faz parte dessa luta: além da comemoração da vitória popular da revogação, reafirmamos que lutar não é crime e demonstramos apoio às mobilizações de outras cidades. Contudo, no ato de hoje presenciamos episódios isolados e lamentáveis de violência contra a participação de diversos grupos. O MPL luta por um transporte verdadeiramente público, que sirva às necessidades da população e não ao lucro dos empresários. Assim, nos colocamos ao lado de todos que lutam por um mundo para os debaixo e não para o lucro dos poucos que estão em cima. Essa é uma defesa histórica das organizações de esquerda, e é dessa história que o MPL faz parte e é fruto.O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário. Repudiamos os atos de violência direcionados a essas organizações durante a manifestação de hoje, da mesma maneira que repudiamos a violência policial. Desde os primeiros protestos, essas organizações tomaram parte na mobilização. Oportunismo é tentar excluí-las da luta que construímos juntos.

Toda força para quem luta por uma vida sem catracas.

Perdeu-se uns 30 minutos da manifestação com bate-boca. "Apartidários contra partidários". Aliás, a única ocorrência envolvendo brigas no meu trajeto todo foi entre os próprios manifestantes.
O MPL encerrou o ato às 21h00 na Praça Oswaldo Cruz. Mas as pessoas não quiseram parar. Entoando o grito "vem pra rua vem, contra o governo", seguiram caminhando por outras vias da cidade.

Contra o governo significa o quê? Alckmin, Dilma, Haddad, a instituição? Democracia? Todas as anteriores? Aposto que muitos deles não sabem responder.

As insatisfações são muitas, e muitas delas justas. Mas querer tudoaomesmotempojá é imaturidade. A pauta precisa ser clara. Deve haver uma estratégia. No fundo, é necessária alguma organização para que se consiga atingir o objetivo.

E se engana quem diz que o MPL não é organizado. Há porta-vozes (que dão entrevistas todos os dias). Há os organizadores da passeata, que vão à frente, monitorando. Um dos integrantes me disse ontem que até assessor de imprensa tinha ali, para atender os jornalistas.

Uma das integrantes, que ia à frente, pediu para que algumas pessoas, que carregavam faixas bradando por uso consciente dos impostos, se afastassem um pouco mais do MPL, para "não misturarmos as coisas".

Nada disso invalida a conquista, a mobilização nacional, o anseio das pessoas de lutar por uma cidade, um país melhor. De sair da inércia.

Mas ontem fiquei bem confusa no meio de toda aquela confusão. A conclusão, pra mim, foi: acender a chama é um desafio, mas o maior deles é mantê-la acesa.


















terça-feira, 18 de junho de 2013

Dá para ser livre?

Não sei até quando, mas por enquanto o debate é esse. E o espaço no blog será destinado a isso. Falar sobre as manifestações que estão ocorrendo na capital paulista (e no país), no fim das contas, também é falar sobre a São Paulo que nós queremos. É para o bem da nossa cidade e dos que nela vivem. E por isso, sempre haverá espaço aqui para a discussão.

Na tentativa de avançar sobre o tema para além dos confrontos nas ruas e da manifestação por si só, conversei ontem na rádio SulAmérica Trânsito com dois especialistas. O objetivo era discutir sobre a redução da tarifa e sobre o fim maior do movimento: o passe livre. É possível, é viável o transporte completamente gratuito ou com tarifa apenas simbólica?

* Lúcio Gregori, que foi secretário de Transportes da cidade durante a gestão de Luiza Erundina, em 1990, acredita que sim, com reforma tributária, imposto progressivo do IPTU, aumentando para imóveis de luxo, sedes de grandes empresas e bancos, e diminuindo ou isentando para os menos favorecidos e, com isso, criando um Fundo para bancar a tarifa (esta era a proposta em 1990, mas foi vetada na Câmara). Mais polêmico, ele acredita que o prefeito deveria revogar o Bilhete Único Mensal, pelo menos por enquanto, e usar este dinheiro para bancar os 0,20 da passagem para todos (reivindicação imediata do movimento).
 

A entrevista completa está aqui: https://soundcloud.com/#radiosulamericatransito-1/entrevista-transporte-p  

* Amir Khair: mestre em finanças públicas pela FGV: inicialmente acha que não é possível a tarifa zero. Mas depois diz que, com reforma tributária e desoneração do setor (especialmente na folha de pagamento), sim, é viável.

A entrevista completa está aqui: https://soundcloud.com/#radiosulamericatransito-1/entrevista-transporte-p-blico 


Ambos reconhecem que os políticos não aprovam a reforma porque isso gera insatisfação da classe mais abastada e de empresários. Ambos dizem que a tarifa é das mais caras do mundo e que, se os aumentos ao longos dos anos tivessem acompanhado a inflação, a tarifa seria muito menor hoje.
 

Quinto grande ato contra o aumento das passagens:





O que vi ontem durante todo o meu trajeto de 10 km, saindo do Largo da Batata até a ponte Estaiada e voltando até a ponte Engenheiro Roberto Zuccolo, foi um ato pacífico. Como da última vez, vi um único manifestante pichando embaixo da ponte Eusébio Matoso.




Opiniões à parte, ninguém poderá negar que foi um dia histórico, não só para São Paulo, como para todo o país. A sensação que eu tive quando vi um grupo de manifestantes chegar pela Berrine, ao encontro do grupo em que eu estava, na Estaiada, é indescritível. Só quem estava lá sabe. 



Não sei qual será o fim disso tudo, mas a minha esperança é de que a São Paulo que meus pais escolheram para criar os filhos, e que talvez seja a cidade (escolhida ou não) para criar os meus, saia ganhando com isso. Que o Brasil saia ganhando com tudo isso.
















sexta-feira, 14 de junho de 2013

Peço licença...

...ao meu próprio Blog. Hoje o tema não é o que há de melhor em São Paulo. Faz quase duas semanas que não tenho postado aqui, porque não tenho conseguido escrever sobre as coisas boas da capital diante de tudo o que está acontecendo pelas ruas. Então, peço licença para falar sobre o que vi ontem no centro da maior cidade do país.

Me ofereci para cobrir a manifestação deste dia 13 de junho pela Rádio SulAmérica Trânsito. Fiz isso pela profissão, mas mais do que isso, para sanar uma dúvida pessoal. Desde o início dos confrontos não  emiti opinião alguma sobre o que tem acontecido. Porque quanto mais lia (da grande mídia aos blogs alternativos), mais dúvidas tinha. Quis ver com os próprios olhos, sentir o clima dentro da manifestação. Saber o que de fato está acontecendo.

Não vou emitir nenhuma opinião sobre os protestos, porque ainda tenho questões não respondidas. Questões que virão no final deste post. Vou dizer o que vi.


- A manifestação estava pacífica em frente ao Theatro Municipal. Em sua maioria esmagadora, jovens, estudantes e universitários. Depois dos últimos protestos violentos, havia uma necessidade, pelo menos de alguns dos manifestantes, de mostrar que vinham em paz. Esta estudante de gestão ambiental era uma delas. Conversamos um pouco sobre o movimento. Para os que acham que é por causa do aumento de R$ 0,20, procurem ler a carta de princípios. O aumento é o estopim. O apelo é maior, muito maior: http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/carta-de-principios/



- Percebi divergências dentro do próprio movimento: havia partidos políticos (isso incomodou parte dos manifestantes, que pedia pra que as pessoas recolhessem suas bandeiras, afirmando que o movimento é apartidário), havia grupos reivindicando outras causas que nada tem a ver com transporte.


- O movimento seguiu até a Rua da Consolação. Eu não posso dizer nada sobre o começo dos confrontos. Não vi quem fez o que, ou quem "atirou a primeira pedra". Posso dizer o que vi depois: e foi assustador.


- Ficamos encurralados na rua Augusta. Quando digo ficamos, quero dizer: eu, os manifestantes, os trabalhadores, os estudantes que nada tinham a ver com a manifestação, os moradores da área, o senhorzinho da banca de jornal. Sem distinção, policiais jogaram incontáveis bombas de gás lacrimogêneo. A sensação é de que não havia saída. Pessoas tentavam buscar abrigo nos estabelecimentos comerciais, prédios e hotéis, que fechavam as portas e negavam ajuda.


- Importante: a Paulista foi completamente bloqueada por policiais, e não por manifestantes. Os policiais bloquearam a Paulista para impedir que manifestantes bloqueassem a Paulista.



- Vi um único caso de depredação. Este manifestante abaixo, pichando as portas de estabelecimentos comerciais no centro.



 - Na avenida Paulista: se houvesse uma aglomeração, ainda que pacífica, de mais de 10 pessoas, a polícia jogava bombas de efeito moral para dispersar. Os manifestantes entoavam gritos: "sem violência". E eram recebidos com mais bombas.


- Em frente à estação Consolação do metrô: eu e um grupo de pessoas (manifestantes e não manifestantes) estávamos parados na calçada (é importante ressaltar), apenas observando. Os policiais começaram a atirar com balas de borracha em todos nós. Não sei o que ocasionou isso, mas não vi nenhuma provocação ou vandalismo que desencadeasse este ato. Felizmente ninguém se feriu.

- Não vi diálogo. Não havia, pelo menos em todo o meu trajeto, algum policial disposto a conversar com os manifestantes. Não vi nenhum mediador de conflitos.

- Não vi policiais batendo com cassetetes em ninguém. Também não vi manifestantes atacando policiais.


Ficam os questionamentos:

1- A causa é justa. O transporte é caro e, mais do que isso, de má qualidade. Mas é possível e viável financeiramente o "passe livre"?

2- O direito de se manifestar consegue coexistir com o direito de outros e ir e vir?

Pausa para outra cena: no meio da Consolação, no caos do trânsito, o marido, com sua filha pequena e a mulher, visivelmente doente (aparentava passar por quimioterapia), caíram no olho do furacão. A mulher passava mal e ele, desesperado, tentava sair dali. Precisamos lembrar que fechar vias importantes da cidade é impedir que pessoas com problemas sérios consigam chegar ao destino. Esse destino pode ser um hospital e o problema sério pode custar a vida de alguém.

3- Como se manifestar e ser ouvido de outra maneira, sem interditar ruas, sem violência?

4- Há necessidade de controle, de uma liderança? O movimento anárquico e livre perde sua legitimidade, já que, mesmo sendo poucos, os que vandalizam estão ali entre os outros?


Não sei responder a estas perguntas. Sei dizer o que vi. Muita gente com garra e desejo de mudar. Muita gente querendo fazer isso de forma pacífica. Mas em algum momento, o negócio se desvirtua e a depredação acontece por parte de alguns. 

O que é inaceitável: a polícia agir da maneira truculenta como agiu ontem. Quem deveria proteger o cidadão está atacando. A esmo, sem distinção entre quem está ou não se manifestando. E sem distinção entre os que estão se manifestando pacificamente e os que estão depredando. Eu senti medo. E não foi dos que protestavam. Foi da ação da polícia. 

Diante de tudo isso a conclusão é que o caminho para a mudança precisa ser outro. Mas eu não sei responder qual.