Me ofereci para cobrir a manifestação deste dia 13 de junho pela Rádio SulAmérica Trânsito. Fiz isso pela profissão, mas mais do que isso, para sanar uma dúvida pessoal. Desde o início dos confrontos não emiti opinião alguma sobre o que tem acontecido. Porque quanto mais lia (da grande mídia aos blogs alternativos), mais dúvidas tinha. Quis ver com os próprios olhos, sentir o clima dentro da manifestação. Saber o que de fato está acontecendo.
Não vou emitir nenhuma opinião sobre os protestos, porque ainda tenho questões não respondidas. Questões que virão no final deste post. Vou dizer o que vi.
- Percebi divergências dentro do próprio movimento: havia partidos políticos (isso incomodou parte dos manifestantes, que pedia pra que as pessoas recolhessem suas bandeiras, afirmando que o movimento é apartidário), havia grupos reivindicando outras causas que nada tem a ver com transporte.
- O movimento seguiu até a Rua da Consolação. Eu não posso dizer nada sobre o começo dos confrontos. Não vi quem fez o que, ou quem "atirou a primeira pedra". Posso dizer o que vi depois: e foi assustador.
- Ficamos encurralados na rua Augusta. Quando digo ficamos, quero dizer: eu, os manifestantes, os trabalhadores, os estudantes que nada tinham a ver com a manifestação, os moradores da área, o senhorzinho da banca de jornal. Sem distinção, policiais jogaram incontáveis bombas de gás lacrimogêneo. A sensação é de que não havia saída. Pessoas tentavam buscar abrigo nos estabelecimentos comerciais, prédios e hotéis, que fechavam as portas e negavam ajuda.
- Importante: a Paulista foi completamente bloqueada por policiais, e não por manifestantes. Os policiais bloquearam a Paulista para impedir que manifestantes bloqueassem a Paulista.
- Vi um único caso de depredação. Este manifestante abaixo, pichando as portas de estabelecimentos comerciais no centro.
- Na avenida Paulista: se houvesse uma aglomeração, ainda que pacífica, de mais de 10 pessoas, a polícia jogava bombas de efeito moral para dispersar. Os manifestantes entoavam gritos: "sem violência". E eram recebidos com mais bombas.
- Em frente à estação Consolação do metrô: eu e um grupo de pessoas (manifestantes e não manifestantes) estávamos parados na calçada (é importante ressaltar), apenas observando. Os policiais começaram a atirar com balas de borracha em todos nós. Não sei o que ocasionou isso, mas não vi nenhuma provocação ou vandalismo que desencadeasse este ato. Felizmente ninguém se feriu.
- Não vi diálogo. Não havia, pelo menos em todo o meu trajeto, algum policial disposto a conversar com os manifestantes. Não vi nenhum mediador de conflitos.
- Não vi policiais batendo com cassetetes em ninguém. Também não vi manifestantes atacando policiais.
Ficam os questionamentos:
1- A causa é justa. O transporte é caro e, mais do que isso, de má qualidade. Mas é possível e viável financeiramente o "passe livre"?
2- O direito de se manifestar consegue coexistir com o direito de outros e ir e vir?
Pausa para outra cena: no meio da Consolação, no caos do trânsito, o marido, com sua filha pequena e a mulher, visivelmente doente (aparentava passar por quimioterapia), caíram no olho do furacão. A mulher passava mal e ele, desesperado, tentava sair dali. Precisamos lembrar que fechar vias importantes da cidade é impedir que pessoas com problemas sérios consigam chegar ao destino. Esse destino pode ser um hospital e o problema sério pode custar a vida de alguém.
3- Como se manifestar e ser ouvido de outra maneira, sem interditar ruas, sem violência?
4- Há necessidade de controle, de uma liderança? O movimento anárquico e livre perde sua legitimidade, já que, mesmo sendo poucos, os que vandalizam estão ali entre os outros?
Não sei responder a estas perguntas. Sei dizer o que vi. Muita gente com garra e desejo de mudar. Muita gente querendo fazer isso de forma pacífica. Mas em algum momento, o negócio se desvirtua e a depredação acontece por parte de alguns.
O que é inaceitável: a polícia agir da maneira truculenta como agiu ontem. Quem deveria proteger o cidadão está atacando. A esmo, sem distinção entre quem está ou não se manifestando. E sem distinção entre os que estão se manifestando pacificamente e os que estão depredando. Eu senti medo. E não foi dos que protestavam. Foi da ação da polícia.
Diante de tudo isso a conclusão é que o caminho para a mudança precisa ser outro. Mas eu não sei responder qual.
"Resposta" para a questão 1, Dani!
ResponderExcluirhttp://www.estadao.com.br/noticias/impresso,so-tres-cidades-do-interior-do-pais-tem-tarifa-zero-,1042201,0.htm