sexta-feira, 14 de junho de 2013

Peço licença...

...ao meu próprio Blog. Hoje o tema não é o que há de melhor em São Paulo. Faz quase duas semanas que não tenho postado aqui, porque não tenho conseguido escrever sobre as coisas boas da capital diante de tudo o que está acontecendo pelas ruas. Então, peço licença para falar sobre o que vi ontem no centro da maior cidade do país.

Me ofereci para cobrir a manifestação deste dia 13 de junho pela Rádio SulAmérica Trânsito. Fiz isso pela profissão, mas mais do que isso, para sanar uma dúvida pessoal. Desde o início dos confrontos não  emiti opinião alguma sobre o que tem acontecido. Porque quanto mais lia (da grande mídia aos blogs alternativos), mais dúvidas tinha. Quis ver com os próprios olhos, sentir o clima dentro da manifestação. Saber o que de fato está acontecendo.

Não vou emitir nenhuma opinião sobre os protestos, porque ainda tenho questões não respondidas. Questões que virão no final deste post. Vou dizer o que vi.


- A manifestação estava pacífica em frente ao Theatro Municipal. Em sua maioria esmagadora, jovens, estudantes e universitários. Depois dos últimos protestos violentos, havia uma necessidade, pelo menos de alguns dos manifestantes, de mostrar que vinham em paz. Esta estudante de gestão ambiental era uma delas. Conversamos um pouco sobre o movimento. Para os que acham que é por causa do aumento de R$ 0,20, procurem ler a carta de princípios. O aumento é o estopim. O apelo é maior, muito maior: http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/carta-de-principios/



- Percebi divergências dentro do próprio movimento: havia partidos políticos (isso incomodou parte dos manifestantes, que pedia pra que as pessoas recolhessem suas bandeiras, afirmando que o movimento é apartidário), havia grupos reivindicando outras causas que nada tem a ver com transporte.


- O movimento seguiu até a Rua da Consolação. Eu não posso dizer nada sobre o começo dos confrontos. Não vi quem fez o que, ou quem "atirou a primeira pedra". Posso dizer o que vi depois: e foi assustador.


- Ficamos encurralados na rua Augusta. Quando digo ficamos, quero dizer: eu, os manifestantes, os trabalhadores, os estudantes que nada tinham a ver com a manifestação, os moradores da área, o senhorzinho da banca de jornal. Sem distinção, policiais jogaram incontáveis bombas de gás lacrimogêneo. A sensação é de que não havia saída. Pessoas tentavam buscar abrigo nos estabelecimentos comerciais, prédios e hotéis, que fechavam as portas e negavam ajuda.


- Importante: a Paulista foi completamente bloqueada por policiais, e não por manifestantes. Os policiais bloquearam a Paulista para impedir que manifestantes bloqueassem a Paulista.



- Vi um único caso de depredação. Este manifestante abaixo, pichando as portas de estabelecimentos comerciais no centro.



 - Na avenida Paulista: se houvesse uma aglomeração, ainda que pacífica, de mais de 10 pessoas, a polícia jogava bombas de efeito moral para dispersar. Os manifestantes entoavam gritos: "sem violência". E eram recebidos com mais bombas.


- Em frente à estação Consolação do metrô: eu e um grupo de pessoas (manifestantes e não manifestantes) estávamos parados na calçada (é importante ressaltar), apenas observando. Os policiais começaram a atirar com balas de borracha em todos nós. Não sei o que ocasionou isso, mas não vi nenhuma provocação ou vandalismo que desencadeasse este ato. Felizmente ninguém se feriu.

- Não vi diálogo. Não havia, pelo menos em todo o meu trajeto, algum policial disposto a conversar com os manifestantes. Não vi nenhum mediador de conflitos.

- Não vi policiais batendo com cassetetes em ninguém. Também não vi manifestantes atacando policiais.


Ficam os questionamentos:

1- A causa é justa. O transporte é caro e, mais do que isso, de má qualidade. Mas é possível e viável financeiramente o "passe livre"?

2- O direito de se manifestar consegue coexistir com o direito de outros e ir e vir?

Pausa para outra cena: no meio da Consolação, no caos do trânsito, o marido, com sua filha pequena e a mulher, visivelmente doente (aparentava passar por quimioterapia), caíram no olho do furacão. A mulher passava mal e ele, desesperado, tentava sair dali. Precisamos lembrar que fechar vias importantes da cidade é impedir que pessoas com problemas sérios consigam chegar ao destino. Esse destino pode ser um hospital e o problema sério pode custar a vida de alguém.

3- Como se manifestar e ser ouvido de outra maneira, sem interditar ruas, sem violência?

4- Há necessidade de controle, de uma liderança? O movimento anárquico e livre perde sua legitimidade, já que, mesmo sendo poucos, os que vandalizam estão ali entre os outros?


Não sei responder a estas perguntas. Sei dizer o que vi. Muita gente com garra e desejo de mudar. Muita gente querendo fazer isso de forma pacífica. Mas em algum momento, o negócio se desvirtua e a depredação acontece por parte de alguns. 

O que é inaceitável: a polícia agir da maneira truculenta como agiu ontem. Quem deveria proteger o cidadão está atacando. A esmo, sem distinção entre quem está ou não se manifestando. E sem distinção entre os que estão se manifestando pacificamente e os que estão depredando. Eu senti medo. E não foi dos que protestavam. Foi da ação da polícia. 

Diante de tudo isso a conclusão é que o caminho para a mudança precisa ser outro. Mas eu não sei responder qual.














Um comentário:

  1. "Resposta" para a questão 1, Dani!

    http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,so-tres-cidades-do-interior-do-pais-tem-tarifa-zero-,1042201,0.htm

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