segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma lua iluminando na escuridão

Acho que não há dia mais propício para esta postagem. Por todo o debate que foi e está sendo gerado a partir da divulgação da pesquisa do IPEA "Tolerância social à violência contra as mulheres", que foi buscar saber de 3.810 entrevistados suas percepções sobre o tema. O resultado foi assustador e culminou em uma manifestação virtual muito importante e da qual falarei já já. Alguns dados da pesquisa até foram mais animadores, mas outros nos fazem refletir o quanto nós avançamos na luta pela igualdade.
Este é dos mais chocantes: 65% dos entrevistados concordam, parcial ou totalmente, com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Detalhe: 66% dos que foram ouvidos eram exatamente mulheres. Isso gerou uma comoção e indignação muito grande, que resultou no evento: "Eu não mereço ser estuprada", no Facebook.

Faz dois dias que não consigo parar de ler manifestações de apoio e, especialmente, relatos de mulheres que, pela primeira vez na vida, resolveram quebrar o voto de silêncio e expor suas dolorosas histórias a milhares de desconhecidos. O mais impressionante é perceber que, a cada relato de estupro revelado, outras três, quatro pessoas comentam que também sofreram o mesmo. Os números de outras pesquisas já mostram que a situação é gravíssima, mas ler os relatos, ver o rosto dessas pessoas... não consegui digerir até agora. Talvez nunca consiga.

Por isso mesmo, por toda esta discussão que não pode cessar e calar, não vejo melhor momento para falar sobre a Casa de Lua, local que coincidentemente conheci na sexta-feira. É um projeto muito bacana, um coletivo formado por várias e diferentes mulheres, que promove em uma casa na Vila Anglo, Zona Oeste, eventos que propõe a reflexão sobre o papel da mulher na sociedade. Política, maternidade, trabalho, astrologia, beleza, tecnologia, manifestações artísticas, exposições e saraus, como o que fui na sexta, estão na agenda. As fotos abaixo são do "primeiro Sarau de Lua, uma festa de celebração a todas as manifestações artísticas, em que se pode recitar, ler, performar, dançar e cantar", como diz o próprio 
convite. Teve poesia (uma delas brilhantemente declamada pela minha amiga Maria Teresa), sanfona, canção popular, exposição de fotografia... Uma vibração indescritível e uma energia tão boa que será difícil não voltar várias outras vezes.

Mais da proposta e do trabalho destas mulheres incríveis aqui: 
Casa de Lua







Prefiro ignorar os comentários que fazem piada ou tentam descaracterizar o movimento "Eu não mereço ser estuprada". Mas é difícil não bater uma angústia de saber que os 65% não são ilusão. Estão ali, em cada uma das frases bizarras escritas nas páginas ou proferidas nas rodas de amigos/colegas. Mas conhecer coletivos como este me dão ânimo e me fazem acreditar que ainda há esperança. Tem de haver.

PS: nunca passei por nenhuma situação de abuso (pelo menos não alguma que minha memória infantil não tenho apagado-e sabemos como isso acontece na primeira idade, e como nossa mente tem este poder de bloquear certas informações, como forma de proteção). Mas sofri um sequestro-relâmpago junto com outras duas amigas há 1 ano e meio, e tive que ouvir dos bandidos que "com certeza nós não tínhamos namorado, porque se tivéssemos não estaríamos andando pelas ruas da cidade sozinhas numa quinta-feira à noite". Como se uma mulher, pra sair de casa a qualquer horário, para qualquer lugar, precisasse estar acompanhada de um "macho" que a proteja. Até quando?










 

sexta-feira, 21 de março de 2014

365 dias

Esta semana completei 31 aninhos... E o dia do meu aniversário, 18 de março, coincide com o dia do aniversário deste blog, que completou 1 ano. 

O aniversário de Daniela Florenzano foi um dia de celebração, de energias positivas, de amigos, família, colegas desejando coisas boas. Foi um dia de renovar meus desejos e sonhos. Parece bobagem, pra muitos é apenas mais um dia do ano, mas eu gosto de usar estas datas marcantes para reavaliar a vida, reforçar as promessas e vontades, me sentir com energia pra seguir em frente com meus objetivos. Claro, temos que manter este espírito o ano todo, mas gosto de me sentir nascendo de novo e renovando minha existência.

O aniversário do blog foi um dia para voltar no tempo, 365 dias atrás, e reavaliar: como me sentia em relação à cidade em 18 de março de 2013? Como me sinto agora? O que eu descobri neste um ano? (apenas para relembrar, este foi o post inaugural do blog: "Iniciando o processo de reconciliação".). 
Foi muito bacana ler este post de novo. Mais do que isso, saber que eu consegui fazer as pazes com São Paulo através deste blog. Ele me "forçou" a ver as coisas boas da cidade e, olha, neste 365 dias descobri muita coisa boa escondida por aí.

São Paulo é perfeita? De jeito nenhum! Ainda é caótica? Com certeza! Tem muito a melhorar? Sem dúvida! Então você me pergunta: "mas o que raios mudou dentro de você, Daniela?". Não sei se sei explicar... Uma vontade muito grande de contribuir para que o meu lar, o nosso lar, seja sempre melhor. 

Neste 1 ano eu percebi que posso andar de transporte público. É difícil, exige força de vontade, mas não é impossível. Mudei de apartamento, para um muito melhor localizado. Isso me ajudou a ter outra relação com a cidade. Faço muita coisa a pé, na minha área, e me tornei uma paulistana mais observadora por isso, tanto para ver os defeitos, como para ver as qualidades.

Descobri o Alex Senna e sua arte incrível que alegra meus dias, a importância da ocupação do espaço público com música, arte, dança. Descobri os coletivos, que estão aí, na luta por uma São Paulo mais harmônica, mais viva, mais vibrante. Participei, como observadora e como repórter, das manifestações de junho. Contraditórias, não sei se tão efetivas quanto imaginamos ou gostaríamos, mas que levou às ruas milhares de pessoas insatisfeitas, mas com vontade e sede de mudança. Saímos da inércia. Descobri a Casa de Francisca, a Casa do Núcleo, o Riconcito Peruano, o Museu da Língua Portuguesa. Reafirmei meu amor à Mostra de Cinema, à Virada Cultural, ao Sesc e ao carnaval de rua, que este ano foi mais lindo do que nunca. Comprei uma bike e descobri um novo jeito de me locomover (ainda que timidamente, aos fins de semana, pela ciclofaixas e parques). Virou paixão!

Caramba, São Paulo, que ano bom este! Muito obrigada!


PS- O mais incrível foi que no dia do aniversário deste blog, no dia do meu aniversário, duas árvores gigantes caíram na minha rua. Fiquei sem luz, sem internet, sem sinal... E não deixei de amar menos a minha cidade por isso!

De bike no Minhocão

linha 775F-10 - Jardim das Palmas